quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Cinderela

Diário de Bordo, Vila do Conde, 29 de Novembro de 2007
Canção do dia: «Fever» Michael Bublé


Terça-feira, 27 de Novembro de 2007
O metro chegou à "Trindade" em cima da hora. Contavam-se os segundos para apanhar o metro das 17:31.
Com a pressa, subo as escadas a correr, saltitando duas a duas. Subitamente, perco uma sabrina vermelha.
-Menina, perdeu o sapatinho!

Existem ainda "Cinderelas"?!

Andante










segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Aniversário

Diário de Bordo, Porto-Vila do Conde, 26 de Novembro de 2007
Canção do dia:«Sun» Cocorosie


Esperei 15 minutos pelo metro das 16:31 na "Trindade". A informação vinha enganada.
Quando entrei na carruagem ofereci o lugar a uma senhora de idade. Ela recusou. Sentei-me. À minha frente estava uma senhora. De tez escura e nariz achatado vestia um casaco grosso azul, calças de ganga azuis e calçava sapatilhas. Na cabeça, um chapéu cinzento de crochet com triângulos brancos, escondia o cabelo negro escorrido. De braços cruzados observava compenetrada a paisagem. Metida nas conversas das outras pessoas, exclamava em voz alta que fazia 90 anos!
-Faço hoje 90 anos, ando pelas ruas todas! Conheço os transportes públicos todos!
-Parabéns! Diziam uns. Ignoravam outros.
-O meu marido faz hoje 103! Diz uma senhora em jeito de gozo.
-Não acredita?!
Entranto dá lugar a outro senhor.
-Sente-se, sente-se!Faço hoje 90 anos mas continuo fresca!
As pessoas riem.
Entretanto entram novos andantes, encontram-se duas velhas amigas. Depois de um grande e desequilibrado abraço, a senhora confunde-me com a filha da amiga.
-Têm os olhos da mãe!
Sorrio.
-Não é a minha filha! Sorri também.
-Ah! É igual! Tem os olhos parecidos com os seus! Então que conta Tété?
-O meu marido faz anos hoje.
-Parabéns, dê-me cá um beijinho. Quantos faz?
-73.
-Ai meu Deus, como o tempo passa!
Entre histórias empolgantes de assaltos a netos, chegam a "Vilar de Pinheiro".
-Continuação de um bom dia de anos, desejo.
-Muito obrigado, faça uma boa viajem.
-Desculpe lá menina, pensava que era filha desta minha amiga!
-Não se preocupe.
-Boa tarde então.
-Por esta porta Rosinha!

Depois de saírem a aniversariante veio sentar-se à minha frente. As mãos cruzadas bufavam e falavam sozinhas. Repetiam o som de quem está aborrecido vezes e vezes sem conta. As rugas da sua face desenhavam o seu olhar castanho compenetrado. Pensavam na vida.
-Nunca mais chegamos, susurrava.
Vê-me a escrever, suspira.

Guardo o lápis e as folhas.
Antes de sair olho para ela.
Olha-me nos olhos respondendo com três sorrisos instantâneos vindos do nada.
Procura outra vítima.

Será outra personagem que ficará registada nas páginas da minha memória.

Andante

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Esvoaçando

Diário de bordo, Porto, 19 de Novembro de 2007
Canção do dia: «No one» de Alicia Keys


Estação de metro da Trindade, 16 de Novembro de 2007

Voltei a ver os pardalecos na linha. Continuam a sua árdua e incansável tarefa. Saltitando, continuam à procura de migalhas deixadas pelos apressados andantes. Apenas notei uma diferença. Os tais pardalinhos estão agora mais gorditos.

Andante

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Era uma vez, uma grande família de dálmatas..."

Diário de Bordo, Vila do Conde, 24 de Outubro de 2007
Canção do dia: «Mi ma bo»-Sara Tavares


-"Era uma vez, uma grande família de dálmatas. A mãe Pepita, o pai Pongo e os seus 101 cachorrinhos. Todos eles eram muito unidos e faziam tudo juntos. Porém, havia sempre uma cadelinha que ficava sempre atrasada. O seu nome era Beatriz.
-Não era pai! O cachorrinho chamava-se Borboto!...
-Tá bem. O seu nome era Borboto. À tarde, e depois da sesta, os cachorrinhos adoravam ver as aventuras...
-As aventuras do Faísca.
-...as aventuras do Faísca, o cão herói. Quando Borboto chegou à sala já os outros cachorrinhos estavam a assistir à sua série preferida.
Borboto sempre sonhara ser como ele. Faísca era um cão que ajudava as pessoas.
-Mas ele vai ser como ele, ele no final da história vai salvar pessoas!
-Beatriz, se tiveres sempre a interromper não te leio a história.
-Desculpa pai.
-Onde é que eu ia? Ah... sim.O Faísca era um cão que ajudava as pessoas. Naquele dia, os cachorrinhos assistiam ao salvamento de um menino que se estava a afogar. Corajosamente, Faísca salta para a água e salva o menino. Os cãezinhos uivavam de alegria.
-Aaaaaaauuuuuuu..."


Já a caminho de Vila do Conde, a única carruagem ia completamente cheia.

-Sinhore! Amigo! Mánde abrir as portas que tá aqui um senhor c'a mão presa na porta desd'a Senhora d'Hora!...
-Ding dong...
-Vai-me desculpar, é possível abrir as portas que há um senhor que está com a mão presa?
-Mas precisa de ambulância?
-Precisa de ambulância? O senhor diz que não precisa de ambulância.
-Ok. Vou já abrir as portas.

-Olhe, afinal o senhor precisa de ambulância.
-Vou providenciar.
-Sente-se bem, precisa de alguma coisa?
-Beba água sinhore, beba água.
-Onde é que sai?
-Pedras Rubras.
-Vão estar dois funcionários da "Metro" à sua espera.
-Muito obrigado. Muito obrigado.

À chegada da estação de "Pedras Rubras".
-Tão ali os os sinhores. Olhe!... Olhe!... É este. (Dizia ela apontando e batendo no vidro.)

-Prontos. Já viu? O 'óme 'tava ali c'a mão apertada à cinc' estações e n'a dizia nada. Ond'é que já se viu?! Se em vez da mão fosse a cabeça, já sabíamos. Pois. S'ele tivesse ficado c'a cabeça presa p'lo menos oubiamo-lo a berrar!

Andante

sábado, 29 de setembro de 2007

Anjinho

Diário de Bordo, Vila do Conde, 20 de Outubro de 2007
Canção do dia: Super Mario Theme

Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007, apanhei o metro no "Pólo Universitário" para vir pa Vila do Conde. Já no cheio metro para a Vila, entra uma família de negrinhos. A mãe senta o menino ao meu lado. A criança, tinha uma ar angelical. Disse-lhe olá. Ele, com vergonha, não respondeu.

-Mãe, dá-me o meu "GameBoy Advance"...

Paz d'alma...
Até que...

-Quase!
-Grande salto!
-Só tenho 11, não 10! (vidas)
-Que sorte...
-Perco sempre aqui!
-Tou quase a passar o nível todo!
-O nível a seguir é o do fogo!
-Tá quase.
-Hi...impossível. Eu saltei para o outro lado!
-Vou apanhar-te!
-Tenho de apanhar...tenho de apanhar...
-Anda "Super Mário"!
-Salta!
-Consegui.
-Eu tinha conseguido...fogo!
-Yes...
-Yes...yes...yes...
-Ganhei! Até que enfim...
-Este nível é um bocadinho difícil.
-Perdi.

De repente bate três vezes com o gameboy na testa e retoma o jogo outra vez.

-Granda finta!
-Tenho de passar.
-Este horrivel monstro...
-Fogo...não consigo saltar...
-Já está!
-Tou a gastar tanto tempo...
-Ah...até que enfim.Acho bem...
-Oh...
-Apanhei mais um. E... apanhei-te!
-Tenho uma sorte...
-16 vidas!!!
-Já passei tudo?! Isto é tão complicado...
-Oh não...falhou.
-Oh...
-Hum...

Entratanto...
Dim..dom...
Próxima paragem Vila do Conde.

Game Over

Andante

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Uma menina trapezista, um viajante malabarista, acrobacias intimistas, personagens voadoras e...

Diário de Bordo, Vila do Conde, 17 de Setembro de 2007
Canção do dia:«Barquinho da Esperança»-Sara Tavares


Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007, apanhámos o metro em "Vila do Conde" com destino ao "Bolhão". Na praça D. João I esperávam-nos o resto dos artistas. Às 22:00h iríamos actuar no Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) pela "Corda Bamba"...
O nervosismo era muito e todos sentíamos borboletas a esvoaçarem na barriga. Já faltava pouco para o espectáculo começar.
Noite, sonho: o piano toca, uma menina anda de baloiço. Balança e voa.
Personagens surgem e levam-na numa noite imaginária. A teia colocada na praça ganha vida, movimento. Há balanço, equilíbrio, saltos, dança, curiosidade. Um viajante surge. Inspirado por aquilo que encontra, começa a jogar. Na sua simplicidade, brinca. Objectos ganham vida. A menina observa.
Um barco de papel de jornal solta as amarras. Enquanto navega grandes e pequenas ondas, rodopia e volta a ancorar.
Da trama de ferro emerge um casal. Intimidade. Cumplicidade. Entre olhares e afectos surgem figuras acrobáticas. A arpa e o vibrafone ecoam.
Volta o viandante. A tinta escorre. Com as bolas, escreve arcos, linhas, curvas e oscilações.
De cima do seu ninho metálico surgem vultos voadores. Entre saltos e ressaltos voltam ao abrigo. Saltarinham e saltitam. Rodeiam, volteiam, giram e circundam sobre si próprios.


O sonho acaba... a menina acorda.
Os aplausos soam, o espectáculo acabou...


Uma menina trapezista, um viajante malabarista, acrobacias intimistas, personagens voadoras e...


Andante


terça-feira, 26 de junho de 2007

Serenata

Diário de Bordo, Vila do Conde, 26 de Junho de 2007
Canção do dia: «J' y Suis Jamais Allé» in Amélie


Tarde, 6 de Abril de 2007, apanho o metro na estação de Vila do Conde. Mais um dia, mais uma viagem. Seria tudo igual não fosse a data, não fosse a tradição. 6 de Abril de 2007. A minha primeira Serenata académica.

Em busca do desconhecido, e guiando-me pelas palavras de outros, parto para o Porto, com a finalidade de participar no mais belo evento da Queima do Porto. Envergando de preto. Junto-me a iguais. As carruagens enchem-se de negro. Ouve-se falar de tradição, de costumes e de indumentárias. Doutores mais velho ensinam caloiros a dobrar a capa. Trajar é para muitos um orgulho. Um símbolo de tudo aquilo que lutaram para atingir o ensino superior. Para outros, o entusiasmo de ser estudante do Porto.
Chegando ao Porto. Na estação os amigos esperam. Trajados pela primeira vez. Adquirímos consciência que somos universitários.

Deambulam pelo burgo antigo. Personagens escuras esvoaçam. Parecem pegas. Aves negras com as pontas das asas e pescoço branco.

Anoitece. A luz foge. As capas fecham, o branco tapa-se. As pegas transformam-se em morcegos.

Por toda a cidade, e depois de jantares académicos, vultos dirigem-se para o mesmo local.

Meia-noite. Atmosféria mágica. Com os Clérigos como fundo traçam-se capas. Abraçam-se padrinhos e amigos. A emoção confunde-se com as notas e acordes que dançam e se perdem no luar.

Andante



sexta-feira, 11 de maio de 2007

Assalto

Diário de bordo, 11 de Maio de 2007, Porto
Canção do dia: «Alegria» in Alegria (Cirque du Soleil)


Segunda-feira, 7 de Maio de 2007, acordei e apanhei o expresso para o Pólo universitário. No metro encontrei uma amiga e colega de turma que também é uma andante usual. Tínhamos frequência nesse dia. Na Trindade validei o cartão. Sentámo-nos nos bancos da estação à espera do metro. Pousei os livros no colo e a bolsa ao meu lado. Chegadas ao Pólo, e já no cimo das escadas rolantes, dei pela falta da carteira. O que iria fazer? Estava sem dinheiro e sem telemóvel. Desci as escadas rolantes. Questionei um dos condutores do metro sobre o que deveria fazer. Ele acionou o mecanismo metro SOS e falou com o senhor. O metro dele chegou, foi-se embora e deixou-me a falar com o senhor da linha. Não me deram indicações sobre o que tinha de fazer. Um segurança que estava a ouvir a conversa ajudou-me. Contactou os seus colegas questionando-os se teriam encontrado alguma bolsa. A resposta foi negativa. Deu-me um número de telefone para o qual poderia ligar para perguntar pelos meus pertences. Nada. Ninguém tinha encontrado nada. Interroguei a senhora que me atendeu relativamente ao meu regresso para Vila do Conde ao final da tarde, já que estava sem o andante e sem dinheiro, para comprar um novo título. Respondeu-me que a Metro do Porto não se podia responsibilizar por isso. Resumindo: tinha perdido a carteira ou sido assaltada, estava sem dinheiro para almoçar e para voltar para casa e tinha frequência em menos de uma hora. O que iria fazer? Dirigi-me à faculdade. Já não fui à primeira aula visto já estar tão atrasada. Retomei ao dia-a-dia. Ao longo deste fui recordando o que tinha enfiado apressadamente na mala essa manhã: telemóvel, carteira, agenda, máquina de calcular, garrafa de água, lanche e lenços de papel. A ideia de nunca mais ver os meus pertences começava a assustar-me. Os meus amigos emprestáram-me dinheiro e meti-me no metro para casa. No caminho dirigi-me à Trindade para pedir informações. Disseram-me que a única Loja Andante que recolhia perdidos e achados era a da estação de Pedras Rubras. Dirigi-me a essa estação, dei os meus dados e rezei para que me dissessem algo nos dias seguintes. Já em casa voltei a ligar para o meu telemóvel. Atendeu-me uma Andreia, estudante no S. João. Disse-me que tinha encontrado o telemóvel e a carteira aí perto. Que descanso... Combinou deixar os meus pertences no centro comercial Campus. Pedi ao meu pai bolei e retornei ao Porto.

A carteira estava lá. Que felicidade!!!

À noite, verifiquei novamente se tinha tudo na carteira. Estava tudo lá excepto o montante da semana. Contudo, estranhamente concluí que para além desse dinheiro, o ladrão tínha-me roubado uma sande de queijo e um sumo "Bongo" de frutos tropicais. Será que se tivesse levado um lanche mais elaborado a minha carteira teria permanecido intacta?

Andante


terça-feira, 24 de abril de 2007

Pardais

Diário de Bordo, Vila do Conde, 24 de Abril de 2007
Canção do dia: «A Thousand Miles»-Vanessa Carlton


Adoro pardais. Adoro os seus saltitos e a sua humildade. Adoro vê-los a agitar as penitas e a moverem-se energicamente de árvore em árvore. Adoro o seu esvoaçar e o seu olhar sempre simpático. Adoro todos os habilidosos lápis de cor que os pintaram com todos os possíveis tons de castanho. Adoro observá-los durante horas e horas.

Na estação da Trindade há um corajoso pardalito que prende a atenção de todos. Vagueia pelas linhas e pelos passeios. Procura migalhas deixadas pelos apressados. Chega mesmo a aproximar-se dos trauseantes, não fugindo. Quando o metro chega ele salta para outro carril, continuando a sua frenética e contínua tarefa. Os olhos esvoaçam deliciados com o pardaleco.

Na espera pelo meu metro, comprei um donuts. Não vi o pardalito mas, propositadamente, migalhas do meu bolo caíram ao chão.

Andante

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Nevoeiro

Diário de Bordo, Vila do Conde, 23 de Abril de 2007
Canção do Dia: «Aureus» in Varekai (Cirque du Soleil)


Abri os olhos ensonados, ouvi o silêncio como tanto gosto. Passado pouco tempo a minha mãe suavemente abriu a porta do meu quarto e dando-me um terno beijo segredou-me:
-Já estás acordada? Posso abrir a persiana?
Quem me dera ficar a dormir mais um bocadinho; a sentir a almofada; a olhar para o tecto. Prometi a mim mesma que compensaria o sono durante a viagem.

O céu estava esquisito: não estava sol nem chuva. Arrisquei. Calcei as sandálias e a minha mãe levou-me ao metro.
Apanhei o habitual expresso, à habitual hora, da habitual ensonada segunda-feira.

Entrei e sentei-me. Com o balancear das carruagens o sono voltou. De repente deparo-me com um dos meus quadros favoritos: o nevoeiro. Há zonas em que a linha sobe sobre a linha das casas e das árvores. O manto branco roça a erva acabando por lá descansar. A paisagem torna-se névoa dispersa, calma, mágica, difusa; como num sonho, como numa miragem. Apenas se vê o verde do cume das árvores emergir por tão belas ondas. O sol aparece como pequena bola de fogo. A paisagem é linda. Dormir parecia agora um pecado.

Andante

sábado, 7 de abril de 2007

Concurso televisivo

Diário de Bordo, Algarve, 7 de Abril de 2007
Canção do Dia: «Masquerade» in The Phantom of The Opera-Andrew Lloyd Webber


Esta história passou-se nas férias de Verão do passado ano aquando de uma viagem até ao Bolhão para um treino de B-Girling.
Estava sol. Eu e uma amiga íamos treinar para o Porto. Apanhámos o metro normal do início da tarde na Estação de Vila do Conde. Sentamo-nos nos assentos de quatro lugares do centro da carruagem. A fazer-nos companhia, e do lado oposto ao nosso, encontrava-se um avô com o seu neto. O neto era louro, usava óculos, e tinha ar de inteligente. Devia ter uns 8 anitos. O avô estava descontraído e parecia contente por estar a tomar conta do neto. Eu e a minha colega falávamos sobre trivialidades: das férias, das aulas, dos amigos, da dança. O avô e o neto conversavam também. De quando a quando o neto levantava-se. Era uma viagem de metro igual a tantas outras que já tínhamos feito. Perto de Modivas o menino começou a meter conversa: -Olá! Como te chamas? Eu disse-lhe o meu nome. -E tu, como te chamas? A minha amiga disse que se chamava Raquel, um nome que não era o dela. -Para onde é que vocês vão? -Nós vamos para o Bolhão, e tu? Respondi-lhe eu. -Querem jogar um jogo? Questionou-nos o puto. Eu e a "Raquel" entreolhámo-nos. -Pode ser, respondi-lhe eu. -Então vamos fazer assim: eu sou o apresentador e vocês são os concorrentes, pode ser? Nós acenamos com a cabeça.

-Concorrente número 1: Qual a linha mais longa? Hipótese A: A vermelha; hipótese B, a amarela; hipótese C, a verde? Respondi-lhe a linha vermelha. -Qual acha que será a resposta correcta, concorrente número 2? A "Raquel", que estava com pouca paciência para o jogo, optou pela resposta B. -Concorrente número 1, acertou. Dois pontos para a concorrente número 1. Bem, o apresentador de televisão continuou a fazer-nos perguntas sobre as linhas, sobre as cores destas, sobre as durações das viagens, etc. Eu e a "Raquel" já só víamos a hora de chegar ao Bolhão.

Entretanto o apresentador passou para a segunda parte do programa televisivo. -A partir de agora as respostas serão por tempo. Tem um relógio? Eu tinha um relógio e, com esperança que o concurso acabásse, lá comecei a cronometrar as respostas da minha companheira de concurso. -Responda "Raquel", responda! O tempo está a esgotar-se! Rápido "Raquel"! Acabou o tempo. A concorrente número 2 não respondeu a tempo. Um ponto negativo para a concorrente número 2.

O babado avô limitava-se a um sorriso bonacheirão. Finalmente chegou o fim do concurso.
-Avô, dá um prémio à concorrente número 1.

Anda lá avô! Mais tarde, o ex-apresentador pediu-nos em namoro. O pedido desagradou à "Raquel", que já estava cansada de todo aquele concurso. O rapaz dirige-se para mim. Pega-me na mão e pede-me em casamento.

"Tim tom"...
... Próxima paragem Bolhão...
... Next stop Bolhão...

Andante



quinta-feira, 5 de abril de 2007

Férias

Diário de Bordo, Algarve, 5 de Abril de 2007
Canção do dia: «Last Home Train» Pat Metheny


Estou de férias, não tenho de acordar todos os dias ás 6,10h para apanhar o expresso das 6,57h. Não desligo o despertador. Fico mais cinco minutos na cama. Não visto a primeira coisa que me aparece no armário. Não tomo o pequeno-almoço a correr. Não saio do carro velozmente. Não vejo rostos ensonados, nem olhos fechados. Não vejo pressa, nem o stress de chegar a horas ao trabalho. Não vejo correrias, nem andantes. Não ouço a menina que repetitivamente nos comunica a próxima paragem. Não encontro "picas" nem aqueles que deles fogem. Não observo seguranças nem pés em cima dos assentos. Não reencontro olhares conhecidos. A paisagem não passa por mim. Estou de férias. Dentro de uma semana tudo voltará ao normal. O tempo passará mais rápido... O tempo voltará a andar sobre carris.

Andante